O eixo intestino–cérebro: da microbiota aos circuitos emocionais do cérebro
O eixo intestino–cérebro funciona como um sistema de comunicação bidirecional. Ele integra neurotransmissores, hormônios, citocinas e estímulos neurais que circulam entre o sistema digestivo e regiões cerebrais responsáveis pelo processamento emocional.
- Comunicação neural (nervo vago)
O nervo vago transmite mensagens em milissegundos entre o intestino e o cérebro. Cerca de 80 por cento de suas fibras levam informação do intestino para o cérebro, e não o contrário. Essa via explica como distensão abdominal, inflamação ou alterações bacterianas podem alterar humor, foco e sensação de bem-estar. - Neurotransmissores produzidos no intestino
Aproximadamente 90 por cento da serotonina periférica é produzida no trato gastrointestinal. Além dela, bactérias específicas participam da síntese de GABA e dopamina, essenciais para regulação da ansiedade.
Evidências científicas:
Gershon MD. The Enteric Nervous System: A Second Brain.
https://doi.org/10.1056/NEJMra1411815
Foster JA, Neufeld KAM. Gut–Brain Axis and Mood Disorders.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4381970/
Leia também:
- Disbiose intestinal, hiperpermeabilidade e inflamação sistêmica: entenda a relação
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Inflamação, permeabilidade intestinal e ansiedade: como o intestino altera a bioquímica do cérebro
A barreira intestinal é composta por células epiteliais unidas por proteínas chamadas tight junctions. Quando elas se abrem, ocorre aumento de permeabilidade. Isso permite a passagem de moléculas que não deveriam circular livremente no organismo, como o LPS (lipopolissacarídeo).
Por que isso importa para ansiedade?
As células imunológicas reagem a esses fragmentos bacterianos produzindo citocinas inflamatórias. IL-6, TNF-alfa e IL-1β podem atravessar a barreira hematoencefálica e afetar áreas como:
- amígdala (centro do medo)
- córtex pré-frontal (regulação emocional)
- hipocampo (memória e resiliência)
Esse processo amplia vulnerabilidade emocional, baixa tolerância ao estresse e piora da ansiedade.
Evidência científica:
Kelly JR et al. Intestinal Permeability and Stress-Related Psychiatric Disorders.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28724780/
O estroboloma e a saúde mental feminina: como bactérias modulam hormônios e emoção
O estroboloma, conjunto de bactérias que metaboliza estrogênio, influencia diretamente a estabilidade emocional feminina.
Como isso acontece?
- um estroboloma equilibrado converte estrogênio de forma adequada
- um estroboloma alterado aumenta metabólitos inflamatórios
- a oscilação do estrogênio modifica a sensibilidade à serotonina
Na prática clínica, mulheres com alterações no estroboloma podem ter:
- piora da ansiedade na TPM
- irritabilidade acentuada na perimenopausa
- maior oscilação emocional durante estresse
Essa integração explica por que sintomas emocionais femininos raramente são isolados.
Evidência científica:
Plottel CS, Blaser MJ. Microbiome and Estrogen Metabolism.
https://doi.org/10.1016/j.tem.2011.01.005
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Microbiota e sono: o ciclo que conecta descanso, humor e estabilidade emocional
A microbiota influencia o ritmo circadiano por meio da produção de:
- serotonina
- melatonina
- ácidos graxos de cadeia curta
Quando há disbiose, o intestino produz menos desses reguladores. Isso afeta:
- indução do sono
- manutenção do sono profundo
- resposta ao estresse no dia seguinte
Mulheres com microbiota alterada podem acordar no meio da madrugada com taquicardia leve, pensamentos acelerados e sensação de ansiedade matinal, mesmo sem alterações psiquiátricas estruturais.
Evidência científica:
Voigt RM et al. Circadian Rhythm and Gut Microbiome.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4420742/
Alimentos que inflamam a microbiota e amplificam ansiedade
Certos alimentos reduzem a diversidade bacteriana e aumentam a permeabilidade intestinal. Entre eles:
- açúcares simples
- ultraprocessados
- óleos vegetais refinados
- álcool
- adoçantes artificiais
- glúten em indivíduos sensíveis
Esses alimentos não só alteram a microbiota como modulam o eixo hipotálamo–hipófise–adrenal, resultando em maior produção de cortisol e maior propensão à ansiedade.
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Estratégias que modulam a microbiota e reduzem a ansiedade baseadas em ciência
- Aumento de fibras solúveis e prebióticos
Inulina, FOS e beta-glucanas aumentam produção de butirato, molécula anti-inflamatória fundamental para integridade intestinal.
- Probióticos com evidência em ansiedade
Estudos mostram benefícios de cepas como:
- Bifidobacterium longum
- Lactobacillus rhamnosus
- L. helveticus
Essas cepas reduzem cortisol e modulam a atividade do eixo HPA.
Evidência científica:
Sarkar A et al. Psychobiotics: Bacteria–Gut–Brain Signals.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4138073/
- Polifenóis e antioxidantes
Cacau, frutas vermelhas, azeite e chá verde fortalecem a barreira intestinal e reduzem inflamação.
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- Higiene do sono
sono insuficiente reduz diversidade bacteriana em apenas 48 horas.
- Atividade física
Exerce impacto direto na microbiota, aumentando espécies benéficas e modulando neurotransmissores.
Quando buscar ajuda profissional
Mulheres com ansiedade persistente, insônia recorrente, alterações digestivas crônicas ou piora emocional durante a TPM devem procurar avaliação médica. Para o componente alimentar, a orientação deve ser feita por nutricionista especializado.
Nota legal
Este conteúdo é informativo e não substitui avaliação individualizada. Em caso de sintomas emocionais ou digestivos, procure médicos e nutricionistas capacitados.
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