É comum ouvir:
“Meus avós comeram pão e tomaram leite a vida toda e viveram muito bem até os 100 anos.”
De fato, pão e leite estão presentes na alimentação humana há milhares de anos, descritos até em passagens bíblicas. Mas há um ponto crucial: o trigo e o leite de hoje não são os mesmos dos nossos avós, nem dos tempos de Abraão ou Moisés.
As mudanças genéticas dos grãos, o modelo de produção intensiva e a presença crescente de hormônios e agrotóxicos transformaram completamente esses alimentos.
Neste artigo, vamos entender como essas alterações afetam a saúde intestinal e por que precisamos olhar para eles com mais atenção na medicina contemporânea.
O trigo de ontem x o trigo de hoje
Trigo ancestral
- Variedades como einkorn e emmer (trigos originais) continham menos glúten e proteínas mais simples.
- O cultivo era natural, sem cruzamentos artificiais intensivos.
- O consumo era em menor escala, com fermentações longas e artesanais que reduziam antinutrientes.
Trigo moderno
- O trigo atual passou por hibridizações e melhoramentos genéticos para aumentar a produtividade.
- Isso resultou em grãos com quantidade e complexidade maior de glúten, mais difíceis de digerir.
- Segundo o Dr. Alessio Fasano, nenhum ser humano digere completamente o glúten, e ele pode ativar a proteína zonulina, aumentando a permeabilidade intestinal em pessoas predispostas (https://www.massgeneral.org/children/mucosal-immunology/faculty/fasano-lab?utm_source=chatgpt.com ).
Leia também: [Glúten, caseína e agrotóxicos: visão integrativa sobre seus impactos intestinais]
O leite de ontem x o leite de hoje
Leite ancestral / dos nossos avós
- Muitas raças bovinas antigas produziam predominantemente caseína A2, proteína de melhor tolerabilidade.
- Animais eram criados em pasto, sem hormônios artificiais, com menor uso de antibióticos.
- O consumo era local, com leite mais fresco e menos processado.
Leite moderno
- Grande parte do leite comercial contém caseína A1, proteína que pode liberar fragmentos inflamatórios.
- Animais recebem hormônios para aumento da produção e antibióticos, que podem afetar a qualidade final.
- O leite passa por processos industriais de homogeneização e ultra-pasteurização, que alteram sua estrutura proteica e lipídica.
O papel dos agrotóxicos e do ambiente
Outro fator que diferencia a alimentação atual da dos nossos avós é a exposição ambiental:
- Resíduos de pesticidas como glifosato estão presentes em cereais e derivados, impactando a microbiota intestinal (https://www.frontiersin.org/journals/allergy/articles/10.3389/falgy.2024.1505834/full?utm_source=chatgpt.com ).
- O corpo moderno lida com sobrecarga tóxica contínua, que fragiliza ainda mais a barreira intestinal.
- Somado ao estresse, ao sono irregular e ao excesso de ultraprocessados, o impacto do trigo e do leite é potencializado.
O olhar integrativo
A pergunta “por que antes não fazia mal e agora faz?” encontra resposta em múltiplos fatores:
- O alimento mudou (mais glúten, mais caseína A1, mais resíduos).
- O ambiente mudou (mais tóxicos, mais poluição, mais estresse).
- O corpo mudou (mais inflamação crônica, mais disbiose, menos resiliência).
Leia também: [Hiperpermeabilidade intestinal: o que é e como tratar?]
Conclusão
Não se trata de comparar nossa saúde com a dos avós para invalidar sintomas atuais.
O trigo e o leite de hoje não são equivalentes aos consumidos por eles. As mudanças genéticas, industriais e ambientais criaram novos desafios para o organismo moderno.
Na visão integrativa, a resposta não é apenas excluir ou demonizar, mas avaliar individualmente cada paciente, fortalecer a barreira intestinal, modular a microbiota e, quando necessário, ajustar a dieta.
Assim, unimos a sabedoria do passado com a ciência do presente para oferecer um cuidado mais completo e consciente.
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