O termo fadiga adrenal divide opiniões: enquanto alguns pacientes se identificam com os sintomas, boa parte da comunidade científica questiona sua validade diagnóstica. Por outro lado, existe um campo sólido de pesquisa sobre a disfunção do eixo HPA (hipotálamo-hipófise-adrenal), responsável por regular nossa resposta ao estresse e manter a homeostase.
Neste artigo, vamos diferenciar os conceitos, analisar o que a ciência realmente reconhece e discutir como a prática clínica pode se beneficiar desse conhecimento.
O que é o eixo HPA?
O eixo HPA é o principal sistema de regulação do estresse no organismo. Ele envolve três estruturas-chave:
- Hipotálamo → libera CRH (hormônio liberador de corticotropina).
- Hipófise → estimula a secreção de ACTH.
- Suprarrenais → produzem cortisol, DHEA e outros hormônios relacionados à adaptação.
Esse circuito funciona em ciclos de feedback: quando o nível de cortisol sobe, o hipotálamo e a hipófise reduzem os estímulos, mantendo o equilíbrio.
Fadiga adrenal x disfunção do eixo HPA
Fadiga adrenal:
- Hipótese de que as glândulas suprarrenais ficariam “esgotadas” após longos períodos de estresse.
- Não reconhecida oficialmente por diretrizes médicas ou pela OMS.
- Falta de marcador laboratorial específico.
Disfunção do eixo HPA:
- Reconhecida em diversos estudos de fisiologia e endocrinologia.
- Refere-se a alterações na sensibilidade, na intensidade ou no ritmo de resposta do eixo ao estresse.
- Pode resultar em hiperativação (cortisol cronicamente elevado) ou hiporreatividade (resposta insuficiente).
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Evidências científicas sobre disfunção do eixo HPA
Estudos mostram que a disfunção do eixo HPA está associada a diversas condições clínicas:
- Depressão e transtornos de ansiedade → alteração no ritmo circadiano do cortisol.
- Síndrome da fadiga crônica → padrões de hipocortisolismo relativo.
- Doenças autoimunes → impacto da inflamação crônica sobre a regulação do eixo.
- Distúrbios metabólicos → resistência à insulina e obesidade relacionados à hiperativação do HPA.
- Distúrbios do sono → fragmentação do sono prejudica a recuperação do eixo.
Essas associações mostram que o problema não é a “falência” das suprarrenais, mas a regulação disfuncional do sistema neuroendócrino como um todo.
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Como investigar na prática clínica
Não existe um exame único capaz de diagnosticar a disfunção do eixo HPA, mas alguns métodos podem ajudar na avaliação funcional:
- Cortisol salivar em múltiplos horários do dia (avaliação do ritmo circadiano).
- Dosagem de ACTH e DHEA para complementar a análise.
- Testes de estresse metabólico ou inflamatório em contextos específicos.
- Avaliação clínica ampliada, considerando sono, nutrição, estresse psicossocial e histórico de doenças crônicas.
Abordagem clínica integrativa
A ciência não sustenta a ideia de uma “fadiga” literal das suprarrenais, mas reconhece a importância do eixo HPA e sua vulnerabilidade frente ao estilo de vida moderno.
Assim, a prática clínica deve buscar:
- Regular o sono e os ritmos circadianos
- Reduzir a inflamação crônica de baixo grau
- Promover manejo eficaz do estresse
- Investigar e corrigir deficiências nutricionais
- Estabelecer planos individualizados de acompanhamento
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Conclusão
Mais do que discutir se a fadiga adrenal “existe” ou não, a chave está em compreender que a disfunção do eixo HPA é real, estudada e clinicamente relevante.
Para o médico, reconhecer essa diferença significa adotar uma postura científica e ao mesmo tempo prática, oferecendo aos pacientes estratégias baseadas em evidências.
Para o paciente, compreender essa visão evita diagnósticos simplistas e abre caminho para um cuidado mais amplo e eficaz.
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